Atriz, mestra em teatro e apaixonada por literatura AnaLu Palma
descobriu sua vocação para ajudar o próximo em meio a uma sessão de
meditação. De olhos fechados e tentando se concentrar no exercício, teve
um lampejo: por que não propiciar às pessoas cegas a emoção de ouvir
obras dos grandes escritores confortavelmente em casa a partir de
gravações de áudio?
A ideia foi o ponto de partida para o
Projeto Livro Falado, que poucos dias depois saía do papel com o apoio da
Academia Brasileira de Letras.
O primeiro clássico a ganhar uma versão gravada pela atriz Léa Garcia
foi Esaú e Jacó, de Machado de Assis. "Começar o projeto com o autor
maior da língua portuguesa nos trouxe sorte", diz AnaLu, que,
posteriormente, gravou ela mesma uma versão de Morte e Vida Severina, de
João Cabral de Melo Neto, seguida de várias outras obras-primas da
literatura brasileira.
Treze anos depois das primeiras gravações,
a biblioteca oral imaginada por AnaLu já acumula 360 obras
disponibilizadas em formato digital de áudio no portal
Acessibilize-se, mantido pela
Universidade Estácio de Sá, com o apoio do
Ministério da Cultura.
Além
desses textos, há outros 280 já gravados e, até o fim do ano, mais mil
deverão ser incorporados à coleção. Para utilizá-la, basta ao deficiente visual
se cadastrar no site. "Muitos cegos brasileiros não têm a alfabetização
em braile, o que dificulta o acesso aos textos. O que queremos com
nosso projeto é dar autonomia a qualquer pessoa que se interesse pelas
obras", explica.
Atualmente, AnaLu se dedica a treinar voluntários
para a gravação de novos títulos, o que requer domínio da entonação e
do ritmo de leitura. Mais de 2 mil pessoas já participaram de suas
oficinas, entre elas um rapaz que, empenhado em ajudar um cego a se
formar em direito, gravou todos os livros obrigatórios do curso e também
textos secundários, em um total de 2 mil fitas cassete. O esforço valeu
a pena: o aluno se formou e está exercendo a profissão.